Esta semana a chuva fez estragos na minha cidade. Não exatamente
a chuva pesada, mas os ventos. Telhas voaram metros e metros, muitas árvores
desabaram, postes tombaram, ficamos sem luz por quase de dez horas. A cobertura
da passarela de uma ponte ficou toda retorcida pela força das rajadas. Cheguei em
casa e meu filho ainda se recuperava dos sustos que tomou – uma de nossas gatas
ficou na jabuticabeira durante toda a chuva, a água subiu pelo quintal porque
as folhas da mesma jabuticabeira entupiram a tela do bueiro, a árvore do
vizinho rachou e desabou diante dos seus olhos.
Salvaram-se todos, enfim.
“A chuva tem mudado... tá muito diferente a força, a
quantidade de água que cai, muito tempo chovendo. Sei lá... esses ventos...”,
diz um amigo com ar profético. Meu vizinho de frente também mostra sua
estranheza: “Moro aqui há cinquenta anos e nunca havia visto isso. Não deste
jeito”. A chuva de cerca de uma hora caiu na segunda-feira. Em frente a minha
janela vejo a árvore do vizinho caída na calçada. Posso ver também a outra na
esquina, e virando à direita, mais outra. Só no meu bairro foram cerca de vinte.
Nos dois dias que se seguiram o céu se enfureceu
novamente. Ficou roxo, relampejou, trovejou, ventou. Adiei meus compromissos
para correr até em casa e, para alívio geral, ficou nos pingos, naquela
chuvinha que faz barulho gostoso lá fora, enquanto aqui dentro dá vontade de
comer pão quentinho com manteiga derretendo com uma xícara de café com leite de
queimar a língua. Ok, está bem, faz um calor danado, mas a imagem lá de fora e
o ruído da chuva me reportam à infância, quando em tardes com esta saía café
pelando do bule.
Gosto de chuva. Gosto de céu roxo. Gosto daquele vento
amedrontador que antecede o cair das águas. Gosto de ficar assistindo a chuva
pela janela, o efeito do vento, aquele barulhão de aguaceiro, os estrondos. Pena
que tudo isso faz um senhor estrago, senão, torceria diariamente para ver tal
espetáculo. É lindo!
Gosto de falar de chuva. De dormir e de acordar com
chuva. De esperar pela chuva. Tenho inúmeras fotos de nuvens assustadoras, de
todos os tipos; tenho filmes de relâmpagos feitos do quintal de casa. Apesar da
correria que me causa um temporal iminente, adoro saber que vai chover. Fico exultante
ao olhar furtivamente pela janela e ser surpreendida “Olha, tá chovendo..!”.
Pena que mudamos tanto o ambiente e por isso os estragos
são cada vez maiores quando chove. Asfaltamos, cimentamos, ocupamos todos os
espaços possíveis de absorção da água. Deixamos construir nos morros. Deixamos escavar
encostas. As margens dos rios não são respeitadas, em nenhum aspecto. Jogamos lixo
nas ruas. Ninguém liga pra isso, ambientalistas são todos uns chatos, né?, até a hora em que chove forte, ocorrem as tragédias (que ainda insistem em chamar de
naturais), morre um bocado de gente, e aos desabrigados que sobram, as prefeituras
têm que pagar um aluguel social (quando pagam). A mesma mesmice de sempre.
Vou continuar gostando de chuva. Ela tem seu lado ótimo. Infelizmente
é trágica para muitos, mas ainda pode ser poética para tantos outros. Como a
vida e a morte. Como aquela nuvem negra que vejo bem ali, apavorante, e que
preciso parar pra fotografar.
3 comentários:
Oi amiga,
além de não pactuar com seu gosto pela chuva (tenho trauma de granizo), igualmente não fiquei satisfeito em você sair para fazer as fotos.
Me telefone. rsrsrsrsr
Calino.
Nossa, tempo de chuva me trás esses mesmos sentimentos e lembranças. Adoro!
Querida, tb gosto do barulho da chuva, de sentir o cheiro de terra molhada, mas me dói cenas como a que vivemos na quinta dia 19. Se na vila ficou assim, fico imaginando em outros locais "menos favorecidos". Fazemos tanto o errado e o "certo"é tão mais fácil. Veja as fotos no seu email. mandei algumas pra você.
Beijo carinhoso.
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