Cheguei em casa afobada, coloquei as cervejas na geladeira,
dei os últimos retoques na arrumação da mesa. Em poucos minutos receberia a
visita de um grupo de amigos. Andava pra lá e pra cá na cozinha, ajeitando uma
coisinha e outra, quando meu filho perguntou: “Mãe, você ainda vai se
arrumar?”. Eu disse “Claro, meu filho! Acha que vou receber meus amigos
assim?”. E ele: “Ué, não sei, mãe, não são seus amigos?”. Parei todos os meus
pensamentos.
Usav a short,
camiseta, chinelos, arco no cabelo. Típico lay out caseiro ou para chegar no
máximo à padaria ali da esquina. Claro que não receberia visitas vestida assim.
Ainda tomaria um delicioso banho, usaria roupa condizente com "receber visitas". Mas o questionamento do meu filho foi crucial. Na
visão dele, se são meus amigos, pra quê armadura? Por que eles não poderiam me
ver daquele jeito? Que problema haveria de me verem como normalmente fico em
casa?
Ele já é um adolescente, mas ainda guarda no coração a
pureza e a naturalidade de toda criança. Me vê como sou e diz o que pensa e o
que sente com toda a verdade que conhece. Há sempre a obrigação de estar desse
ou daquele jeito, escolhemos as máscaras que devemos usar de acordo com hora,
local e companhia, nos preparamos diariamente para variadas encenações. Claro
que no caso era o momento que exigia a roupa adequada, não os amigos. Mas, a
gente nunca pensa realmente dessa forma. E de repente uma perguntinha tão
simples mexe fundo e traz a questão à tona.
Sinceramente não sei até onde deveria ir com essa conversa
ou se deveria mesmo chegar a algum lugar. Sinto é que não posso me furtar à
reflexão do que estou fazendo de minhas relações pessoais, se as vivo de
coração aberto ou se apenas me mascaro e vou levando. Afinal, é meu filho quem
me desperta e ele também se inclui no grupo com o qual me
relaciono. Para muita gente, ouvir a observação que me foi feita renderia tão
somente um “e daí?”, mas não é de tantos “e daí?” que tem se formado a
convivência coletiva tão desrespeitosa que vemos atualmente? Todo mundo se lixa
pra todo mundo e segue em
frente. Não sei se é isso o que quero e é um garoto de 14
anos quem me abre os olhos.
Publicada originalmente no jornal Volta Cultural - Janeiro/2012
.
2 comentários:
Gi querida, fiquei arrepiada... como aprendemos com nossos pequenos... amei!
Beijo grande no nosso lindo e sábio Caio.
Amo vcs!
Genis
Seu filho, realmente tem razão!
Deveríamos ser o que somos diáriamente com as pessoas que nos conhecem.
Não precisamos usar máscaras, para receber os nossos amigos. A não ser, que estes não sejam realmente nossos legítimos amigos.
Giovana, escrevo poesias também e gosto muito de Haicais. Rsrs. Pelo menos acho que escrevo. Rsrs.
Abraços.
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