Após completar 43 anos, meu amigo decidiu que
queria fazer sua primeira tatuagem. Escolheu um tribal que representa seu signo
– Áries – e cravou seu acessório permanente nas costas. A novidade, claro, foi
registrada e divulgada para os amigos nas redes sociais. Parece meio prosaico
tratar isso como novidade nos dias de hoje, afinal, tatuagem não é mais tabu
pra ninguém, né?
É.
Esse mesmo amigo,
com certeza, precisou brigar com os próprios preconceitos e os da família, até
tomar coragem de marcar a pele pra vida toda. E tal decisão ainda é complicada
pra muita gente por aí.
Para se ter uma ideia, recentemente, quando ouvia
duas estagiárias comentando sobre o tema, entrei no papo e falei da minha
tatuagem. E a reação foi: “Você tem tatuageeeeem?”. “Ué, por que a surpresa?”.
“Jamais imaginaria, nossa, Giovana tatuada, que legal!...”
Até hoje não entendo o motivo da reação, ou o
porquê de elas acharem que eu não usaria uma tatuagem. Aliás, minhas
borboletinhas no cóccix chamaram a atenção de uma aluna da faculdade, que logo
depois de encerrada a aula, me segurou na sala e em tom de segredo sussurrou.
“Professooora, bem vi que você tem uma tatuagem...”. Pensei “putz, errei na
roupa!”.
Também demorei a tomar coragem de encarar
aquela maquininha que lembra motorzinho de dentista. Já contava meus 37 anos. A
chefe entrou na redação após um feriado exibindo uma fênix enorme nas costas. Trabalho
perfeito. “Ah, que linda! Puxa vida, sempre quis fazer uma tatuagem..!”. Ao que
ela imediatamente respondeu: “E o que está esperando? Sua mãe deixar? Então
esqueça, querida. Ela nunca vai deixar!”. Dois meses depois saía satisfeitíssima
do estúdio do tatuador, com aquela sensação ardida e a lembrança inesquecível
da dorzinha chata.
Arrependimento nenhum. Acho lindas as três
minúsculas borboletas que dançam em meio a notas musicais. São a minha cara.
Pena que hoje não possa exibi-las como gostaria, mas só de vê-las ali, todos os
dias, fico contente. Fazem mesmo parte de mim, porém não quero mais que isso.
Já pensei em desenhar outra maior, com as asas abertas no alto das costas,
abaixo da nuca, e desisti. Ao contrário do que faz a maioria das pessoas que se
tatua, gosto do meu desenho único, só ele, uma marca.
Um amigo me disse que não se tatuaria porque
quando estudou direito, aprendeu que um corpo tatuado, para a medicina legal,
sugeriria que aquele indivíduo fazia parte de alguma tribo. Seria uma marca que
remeteria a um grupo marginal. Não sei se nas aulas de medicina legal ainda se
ensina isso. Ainda há muitos desenhos relacionados a vários tipos de
associações, mas já não é como antes. No meu caso, por exemplo, qual seria a
minha tribo?
Exercer a liberdade e o poder sobre o próprio
corpo também são motivações para tantos e tantas que resolvem tatuar a pele na
idade madura. Há inúmeras reportagens a respeito, destacando pessoas acima de
40 anos, dos mais diversos segmentos da sociedade, que afirmam estar fazendo
hoje o que gostariam de ter feito há anos, mas pais e maridos não permitiam. A
modernização de equipamentos e tintas utilizados também foi determinante na
atração desta clientela aos estúdios.
Para mim, minhas pequenas borboletas são como
um colar, ou pulseira, ou brinco, que adornam meu corpo, com a diferença que
são fixas, fazem parte da minha pele. E, pode apostar que marcam um momento
importante na minha vida. Como deve ter ocorrido com meu amigo, pois sei que
dentre outras decisões que tomou no fim de 2011, uma delas foi este presente. E
mesmo sabendo que minha mãe jamais aprovaria minha tatuagem, é com uma frase
dela que coloco meu ponto final: “Mais vale um gosto.”.
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8 comentários:
Eu não gosto e não quero, mas respeito quem gosta de tatoo.
Eu prefiro "tatuar" quadros, tecidos e objetos de decoração. Dá para mudar facilmente de lugar ou até refazer a pintura com outros motivos, se enjoar. (Risos)
Sucesso!
Lembro beeeem desse dia da fênix... rsrsrs! Aliás, que tattoo! Lembro perfeitamente dos detalhes, me encantei com aquele trabalho, muito bem feito.
Estou me preparando ($$$) para a quarta aplicação. Mas isso é coisa minha, qdo souberem já estará lá. Pronta.
;)
Em tempo, fui lá conferir a tattoo do seu amigo! Muito bem feita.
Super Sibucs, a criadora das minhs borboletas!
Minha primeira tatoo Foi com 28 anos, o sobrenome da familia materna também um pouco acima do coxis.
A segunda foi aos 30 anos, uma borboleta personalizada. As asas abertas são as marcaras gregas do tetaro.
Ainda esse ano vou fazer uma terceira que tem a ver com meu signo (leão).
VOU PARAR NAS 3 (DIZEM QUE É BOM TER TATOO DE NUMERO IMPAR RSS)
PS. MINHA MÃE ODEIA TATUAGEM,COMO SEMPRE É A ÚLTIMA A SABER... rs
Leslie
Tenho vontade de fazer uma. Seria o rosto da Janis Joplin ou o nome da minha futura filha. Mas meus pais não aprovam.
E agora, quem poderá me ajudar?
Então... você já deve ter visto a câmera que tenho na minha perna esquerda. Certas pessoas da minha família não aceitam, hahaha... minha mãe tomou um susto quando viu aqueles rabiscos enormes na perna pela primeira vez. O preconceito ainda existe, mas quem disse que eu me importo? E quero fazer muitas outras, coisas que tenham a ver com minha vida. Tatuagem não é apenas um desenho, eu acho que é quando é pra ser pra valer, tem que ser algo que tenha muito a ver com a vida da pessoa. Se for pra fazer só por fazer, ou só por ter, não faça! Haha
olá Giovana. Lendo seu blog agora lembrei de quando resolvi fazer minha tatuagem. Meu pai que é um pouco conservador nem ficou sabendo, pois sabia o que ele falaria sobre isso. Ele detesta tatoo, e até hoje quando vê uma delas me pergunta sobre isso (olha que eu falei com ele uns dois meses depois que fiz). Não me arrependo de ter feito, mas acho que a sociedade em geral não deveria criticar tanto quem tem...
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