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10 de março de 2025

Sonho realizado antes de morrer

Aristides entrou na saleta disfarçando o tremor nas mãos e o gelo que lhe contraía a espinha. Trazia biscoitos, requeijão, batatas chips, ketchup e coca-cola. Era o pedido para o lanche da tarde.

Deixou a bandeja e não esperou agradecimento, pois sabia que nunca o ouviria do presidente.

- Que que é? Vai ficar plantado aí? – disse o chefe, sem levantar a cabeça – Já fez seu serviço, agora chispa, que eu tô com muita coisa aqui.

Aristides puxou a arma que ganhara de presente do filho do chefe e apontou para a testa.

- “Filho da puta!”

Foi só o tempo de o chefe erguer a cabeça e receber o único tiro. Aristides apertou as pálpebras, soltou uma gargalhada e o homem tombou sobre a mesa.

- Tamo livre.

Abriu os olhos estatelados, porém parecia sorrir. Não estava consciente; ainda assim sorria um riso de alegria de criança travessa. O enfermeiro sentiu sua agitação que, apesar da respiração sôfrega, até poucos minutos dormia profundamente, sedado que estava.

Conferiu os aparelhos, tocou-lhe o ombro, fitou-o com pesar.

- Andou sonhando, seu Aristides... – disse, com carinho – Está tudo bem, não se agite.

Aristides cerrou os olhos. Os lábios mantiveram um sorriso de lado. O enfermeiro juntou suas mãos com a do paciente e rezou um Pai Nosso.

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