Deixou a bandeja e não esperou agradecimento, pois sabia que
nunca o ouviria do presidente.
- Que que é? Vai ficar plantado aí? – disse o chefe, sem
levantar a cabeça – Já fez seu serviço, agora chispa, que eu tô com muita coisa
aqui.
Aristides puxou a arma que ganhara de presente do filho do
chefe e apontou para a testa.
- “Filho da puta!”
Foi só o tempo de o chefe erguer a cabeça e receber o único
tiro. Aristides apertou as pálpebras, soltou uma gargalhada e o homem tombou
sobre a mesa.
- Tamo livre.
Abriu os olhos estatelados, porém parecia sorrir. Não estava
consciente; ainda assim sorria um riso de alegria de criança travessa. O
enfermeiro sentiu sua agitação que, apesar da respiração sôfrega, até poucos
minutos dormia profundamente, sedado que estava.
Conferiu os aparelhos, tocou-lhe o ombro, fitou-o com pesar.
- Andou sonhando, seu Aristides... – disse, com carinho – Está
tudo bem, não se agite.
Aristides cerrou os olhos. Os lábios mantiveram um sorriso
de lado. O enfermeiro juntou suas mãos com a do paciente e rezou um Pai Nosso.
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