A escolha do tema, a ambientação, as personagens, a Luzia...
Pessoas tão reais, tão possíveis, tão distantes do meu mundinho branco e
privilegiado, urbano e cheio de possibilidades.
De novo Itamar vai ao interior da história, das dores e
cicatrizes dos meus e nossos de antes, da miséria, da fome, da falta de tudo,
do material ao que é essencial à vida, à vida do corpo e da alma.
Ô, Luzia...! Que vontade de pegar Luzia pela mão e trazer
pra casa, dizer que ela pode ser perdoada e se perdoar, que não cometeu pecado
algum, que pode se libertar de si mesma. Vontade de sentar com Luzia à mesa da
minha cozinha e tomando um café quente lhe dizer que sim! ela tem direito de
amar aos seus.
Itamar faz isso comigo. Me compele a querer fazer algo por essas
pessoas, talvez pela culpa ancestral da minha branquitude.
É tanta verdade o que se lê na obra do Itamar, que aquelas
vidas seguem seus rumos, em continuidade, em um ciclo sem fim, porque a
pobreza, a tristeza, o abandono, a solidão e o isolamento das minorias
miseráveis também não têm fim, desde que o mundo é mundo – espero que não dure
mais tanto tempo.
São essas as minhas palavras soltas, sem nenhuma pretensão,
apenas pra dizer francamente o que uma boa história me causa. E taí um recorte
do tanto que Salvar o fogo me alcançou e há três dias mexe com tudo que é meu.
(Texto publicado originalmente em 2023)
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