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11 de março de 2025

Salvar o fogo

Tento escrever algo sobre minha experiência com essa leitura, mas parece que não há mais o que dizer sobre a escrita de Itamar Vieira Jr.

A escolha do tema, a ambientação, as personagens, a Luzia... Pessoas tão reais, tão possíveis, tão distantes do meu mundinho branco e privilegiado, urbano e cheio de possibilidades.

De novo Itamar vai ao interior da história, das dores e cicatrizes dos meus e nossos de antes, da miséria, da fome, da falta de tudo, do material ao que é essencial à vida, à vida do corpo e da alma.

Ô, Luzia...! Que vontade de pegar Luzia pela mão e trazer pra casa, dizer que ela pode ser perdoada e se perdoar, que não cometeu pecado algum, que pode se libertar de si mesma. Vontade de sentar com Luzia à mesa da minha cozinha e tomando um café quente lhe dizer que sim! ela tem direito de amar aos seus.

Itamar faz isso comigo. Me compele a querer fazer algo por essas pessoas, talvez pela culpa ancestral da minha branquitude.

É tanta verdade o que se lê na obra do Itamar, que aquelas vidas seguem seus rumos, em continuidade, em um ciclo sem fim, porque a pobreza, a tristeza, o abandono, a solidão e o isolamento das minorias miseráveis também não têm fim, desde que o mundo é mundo – espero que não dure mais tanto tempo.

São essas as minhas palavras soltas, sem nenhuma pretensão, apenas pra dizer francamente o que uma boa história me causa. E taí um recorte do tanto que Salvar o fogo me alcançou e há três dias mexe com tudo que é meu.

(Texto publicado originalmente em 2023)

 

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