Um dos meus
maiores prazeres é ficar à toa. Sério. Aprecio os minutos ou horas preciosas
que dedico a (tentar) pensar nada, fazer nada, movimentar nada; apenas olhar o
tempo, ouvir o silêncio (experimente); tão somente jiboiar.
Outros
chamariam a isso de meditação. Não saberia dizer se medito, apenas tento pensar nada. Quem medita jura que esvazia a cabeça, algo
que ainda não sou capaz. Minha mente viaja por muitos lugares, situações e
gentes, sem parar, sem elaborar, sem raciocinar.
Pode parecer
estranho, mas meu corpo fica cansado com o tanto que uso a cabeça. Fico mesmo
exausta, a ponto de chegar em casa quase me arrastando, como se tivesse
carregado peso o dia todo. E por isso curto me jogar no sofá e ficar paradinha,
sem nenhum ruído em volta (e isso por aqui é raro).
Há dias em que
desabo e vago sem esforço; em outros, o exercício de reduzir a velocidade é
árduo. Fecho os olhos, entrego o corpo, fixo o pensamento em algo específico e
assim permaneço.
Até um tempo
atrás não me permitia tal deleite. Aprendi que fazer nada era pecado e estava
sempre a procurar algo de útil a fazer. Porém, felizmente descobri que parar de
vez em quando para desocupar o HD é extremamente saudável. Essa não atividade é
que organiza a vida, me põe no prumo e em condições de continuar a lida
adiante. Pena que não consiga fazer nada diariamente. Não por falta de tempo,
pois sempre há uma brecha, mesmo que seja ao fim do dia. É que às vezes a
agitação da jornada é tamanha, que simplesmente é impossível parar o motorzinho
cerebral. Ele funciona no modo automático.
Também gosto
de fazer nada quando estou na praia preferida, de mar calmo, brisa suave
e muitas amendoeiras que fecham uma sombra perfeita para quem gosta apenas de
assistir o sol esturricar a pele dos outros. Faço nada quando estou nesse lugar.
Sento, me ajeito de frente para o horizonte e me deixo levar
para o azul (ou cinza, pode variar). Às vezes leio um pouco; pouquinho. E nada de sair aventurando, a procura de programas, roteiros de passeios, vamos
aqui, vamos ali. Nesse recanto quase particular não abro mão de estar
completamente à toa.
Vazia como a
minha cabeça nessas horas é este papo furado. Palavrório de quem há alguns
minutos estava com o corpitcho esticado no sofá, vagando e vagando e, de
repente, lembrou que tinha de escrever alguma coisa rápido.
(Crônica publicada originalmente no jornal Volta Cultural - Junho/2012)
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