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7 de dezembro de 2011

Lembrar da Lagoa sem saudade


O primeiro contato que tive com a paisagem mais linda do Rio foi na infância, numa das primeiras vezes em que visitei minha irmã, após se casar e ir morar entre os cariocas. Foi um impacto e ao mesmo tempo um deslumbramento, nunca mais esquecidos. Circulei-a apenas de carro, mas foi o suficiente para elegê-la a minha paisagem predileta, entre as tantas da cidade. Engraçado é que passei muitas vezes por ali, sempre olhando aquele espelho d'água pela da janela; demorou muito tempo para que a visse bem de pertinho.

Ainda na infância, numa excursão da escola, fomos até o Corcovado, de onde, diziam, “a vista da Lagoa Rodrigo de Freitas é de tirar o fôlego”. Mas minhas expectativas foram morro abaixo, pois o dia estava nublado e a névoa não nos permitiu vislumbrar nada além de poucos metros abaixo de nossos pés. Já adulta, na companhia de um grupo de amigos, retornei ao Cristo Redentor e, aí sim, num dia claro, pude perder meu fôlego com todo prazer.

A Lagoa é ainda mais linda vista do alto. Parece tão pequena, porém ainda mais charmosa, apesar de tantos edifícios em volta, bloqueando o que seria a paisagem natural. Ao meu lado ninguém entendeu o motivo do meu êxtase, aliás, nem eu mesma. Até hoje não encontrei resposta lógica para tamanha admiração. Apenas me derreto toda diante dela.

Meu grande momento foi quando pude, pela primeira vez, caminhar ao longo do seu entorno. Uma hora e quinze minutos andando, sem saber se prestava a atenção na caminhada, se parava para ver tudo nos mínimos detalhes, se conversava com minha irmã, ou se gritava “Eu estou aquiiii!”. Parece estranho que morando tão perto do Rio nunca tivesse feito isso antes, mas juro, na minha infância não era tão comum esse tipo de passeio e, mais tarde, juntar os tempos para combinar tal programa também tornou-se uma operação complicada.

Voltei lá ainda uma vez, para que meu filho conhecesse a árvore de Natal e isso já vai fazer dois anos. Preciso de coragem para retornar à Lagoa, lembrar com gosto da companhia da minha irmã, sem dor, se possível sem saudade. Apenas grata por ela ter me apresentado o Rio de Janeiro na sua forma mais linda. 


Crônica publicada originalmente na minha coluna no jornal Volta Cultural - nov/2011
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