
Na delegacia, a família faz Boletim de Ocorrência do
golpe que sofreu - o ladrão propõe um assalto consentido, a pessoa que atende à
porta acredita no vagabundo, permite que entre e o dito cujo leva o que bem
entende. O detetive, calejado de tantas ocorrências iguais, sequer pergunta o
tipo físico do vadio, nem que roupa usav a, se estava de carro ou a pé. Nada. Não haverá
uma investigação. É muito golpe idêntico acontecendo na cidade. E a família sai
da delegacia com a sensação de ‘nada aconteceu’.
Cada vez mais eleitores afirmam que votarão nulo ou
em branco. A
maioria não sabe ou se esquece do quanto se lutou neste país para que
tivéssemos o direito de escolher e votar. No caso das mulheres, então, só
adquiriram tal direito em 1932. Sem contar os municípios, como o meu, que
durante a ditadura militar foram área de segurança nacional, por isso seus
prefeitos eram nomeados. Por outro lado, entendo a reação. O que há disponível
para escolha por aí é tão ruim, mas tão ruim, que bate certo desânimo
mesmo.
E tudo fica banal. A natureza, o crime, a política estão
banalizados. Sobreviver, aqui e agora, sem olhar para o lado, sem se importar
com o outro. Isso, sim, tornou-se normal. “Acontece com todo mundo, você tem que
aceitar que acontece com você também.”. Tão banal, que parece até ridículo
escrever a respeito. Porém, ainda assim, por que aceitar que crime é normal, que
político picareta é normal? Porque só o próprio umbigo importa, não é mesmo? É. Até
que um ladrãozinho de m* entre na sua casa.
Crônica publicada originalmente na minha coluna no jornal Volta Cultural - setembro/2012.
Crônica publicada originalmente na minha coluna no jornal Volta Cultural - setembro/2012.
.
.
.
Um comentário:
Gi, querida, que lindo texto. Amei! Faço minhas as tuas palavras. Segue perplexa, pois é um Deus perplexo que faz mover as estrelas. Beijos. Mari.
Postar um comentário