Páginas

17 de abril de 2012

No cinema, aventura é do lado de cá da telona


Trinta minutos na fila de espera do cinema e o mundo gira a minha volta. Não sei se por causa do pequeno espaço, mas meus olhos não sossegam com a quantidade de gente e de coisas acontecendo ao mesmo tempo, naquele espaço apertado e quente.

Isso! Quente é a minha primeira observação. Basta parar por um minutinho na fila e já começo a sentir aquela comichão na nuca, que se espalha para os lados, atinge todo o pescoço e vai subindo. Sinto as bolinhas de suor pinicarem toda a minha cabeça, enquanto gotas escorrem no meio das costas e vão até Deus sabe onde. Tiro o leque de dentro da bolsa, pois para quem sente tanto calor, ainda terei de ficar ali por muito tempo. Ao meu lado, uma senhora me admira invejosamente. Vejo-a com a testa brilhando e imagino-a pensando: “Ahhh, um leque!”.

Para me distrair, passo a vista pelas pessoas, nas enormes filas que formam desenhos encaracolados e que o funcionário quase não dá conta de organizar. O filme mais disputado da noite é “Espelho, Espelho meu”, com Julia Roberts. O segundo maior sucesso é “Fúria de Titãs 2”, que a direção do cinema insiste em disponibilizar em duas salas. Um desperdício, mas pra quem gosta, vá lá. Sou a primeira da fila de “Xingu”, que também fez bonito no hall – um grande U.

Quando a porta de saída se abre, volto minha atenção aos espectadores. Já é costume olhar bem na cara de quem está saindo para captar possíveis reações ao filme. Mas, para minha decepção, não passou um ser que denunciasse algo, nem pra bom nem pra ruim, nem mais ou menos, ou coisa nenhuma. Todos passaram assim, assim. Porém viria saber em seguida que o filme de antes não era o mesmo que eu iria ver. Menos mal.

Desse jeito permaneço, saboreando minha pipoca, tentando abstrair o calor insuportável, observando as pessoas também comendo pipoca e dividindo-as com o faminto chão, até que levo um susto. O senhor à frente, no fim do U que forma minha fila, me olhando constrangido, com um sorrisinho de canto. Rápido percebo que ele está entre mim e a porta de saída da outra sala e, pobre homem, ficou todo-todo pensando estar sendo paquerado pela beldade aqui. Ô, dó. Baixo cabeça e quase engasgo, pois nessas situações o riso é fácil.

Finalmente a porta se abre e minha pipoca está quase no fim. O lugar adequado, no alto, no meio, lugares vazios de ambos os lados do casal e eis que um outro casal resolve passar por nós, para ocupar as vagas à nossa direita, ao invés de dar a volta. Putz! Caixa de pipoca, coca-cola, bolsa, tudo no colo, e ainda o celular na mão, tentando acionar o modo silencioso, e os pombinhos passando... O rapaz, mais desenvolto e magro, em duas passadas está safo, mas a namorada, com um quadril, digamos, exuberante, demora, se espreme, a saia é curta, meu marido baixa os olhos, enfim, está lá, sentadinha na sua poltrona, enquanto abro meu riso e digo “isso dá texto”.

Pena é quando termina o filme, por dois motivos. Primeiro porque gosto de ver os créditos até o fim e os queridíssimos funcionários do cinema simplesmente me cortam o barato. E quando as luzes são acesas, uma lástima. Pipoca, caixas de pipoca, garrafas de refrigerante e água, tudo no carpete. Sabe, chego até a pensar que sou anormal ao acondicionar todo o meu lixo numa sacolinha. Quando vemos tal cena torna-se perfeitamente compreensível o tempo que aguardamos na fila, depois da saída da sessão anterior. Aqueles garotos têm de fazer milagre para limpar a sala a jato.

Em tempo: “Xingu” é cinema de primeira qualidade. Informação, história e emoção para toda a gente. Grande atuação de Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat, sob a direção primorosa de Cao Hamburger. 
.
.
.

7 comentários:

Luciano Neto disse...

Antes de mais nada eu confesso que ri quando li o título. (rs)

Coincidentemente, aconteceu um episódio semelhante comigo, nesse mesmo cinema, nesse mesmo local, só não sei se foi nesse mesmo horário. Enfim...

Minha prima tinha ido fazer umas compras e pediu para eu guardar um lugar para ela na sala. Entrei e sentei confortavelmente numa das poltronas, um senhor que devia ter uns 50 e poucos anos quis sentar ao meu lado com a esposa. Eu disse que estava guardando o lugar para a minha prima, se ele poderia ter a gentileza de ceder o lugar para ela. Vixe! O cinema quase desabou.

"Guardar lugar? onde já se viu isso? Guardar lugar em cinema? Eu vou é sentar aqui e pronto". Na hora que ele falou aquilo o sangue subiu na minha cabeça ( eu sou pavio curto ). Mas me contive e saí de fininho.

Depois eu pensei: Puxa, vida. Como algumas pessoas são mal educadas e deselegantes. Se fosse numa cidade grande como o RJ ou SP onde o que mais tem são pessoas nervosas, já pensou o que poderia acontecer? E por causa de coisas bobas.

Ainda não vi Xingu, nem Titanic 3D e nem o do Raul. Beijos.

CS Empreendimentos Digitais disse...

Por isso quase não vou ao cinema nos dias mais concorridos...
Odeio a sujeira que as pessoas deixam no caminho! Odeio a bagunça que fazem durante os filmes... Enfim.

Pelo menos vc conseguiu um ótimo assunto! Rsrsrsrs!

Giovana disse...

Do meu amigo Calino, por email:

"Gigi,
Para variar, tive dificuldade em postar comentário, mas é o seguinte:
o "coroa" que achou estar sendo paquerado por essa "gatosa" acho que era eu. kkkkkkkkkkkk"

Carol Cunha disse...

Tô louca (saudável) pra ver Xingu!! Vi algumas imgens que me deixaram pilhada. Certamente programa para feriado!!

Em tempo: Só não tenho é saco pra cinema de shopping!! Aquele cheiro de fritura doce no ar e a aborrecência toda reunida... Afff

Carol Bentes disse...

"...a direção do cinema insiste em disponibilizar em duas salas. Na minha opinião, um desperdício..." na minha tb! Tem mais cartaz do que filme passando nesse cinema. Uma pena.

"Primeiro porque gosto de ver os créditos até o fim e os queridíssimos funcionários do cinema simplesmente me cortam o barato." -eu tb, mas não adianta nem permanecer sentada, eles te expulsam de lá =/

"Aqueles garotos têm de fazer milagre para limpar a sala a jato." isso é verdade. É como aquela história do emprego do gari que alguns porquinhos usam pra defender seu desleixo...

Grazi disse...

Adorei quem me indicou foi o fofíssimo Calino. Virei fã. Vi na escrita uma forma da me aliviar das labutas da vida. E estou começando e me sentindo muito bem e vc vai me inspirar muito. Obrigada!!

Grazi disse...

Nossa adorei suas cronicas. Eu estou começando a escrever e o "nosso amigo" em comum Calino te indicou e eu adorei virei fã. Escrever esta me fazendo muito bem e vc com certeza vai ser mais uma inspiração. Obrigada estou descobrindo um mundo novo. Bjos Grazi.