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12 de fevereiro de 2008

Momo saiu de fininho

Carnaval em Volta Redonda. Nada como quatro dias de descanso em casa, na minha cidade, sem grandes sobressaltos. Até aí tudo bem, se a cidade não virasse um cemitério durante o reinado de Momo. Aliás, ele deve ter corrido daqui quando viu tamanho descaso com a sua folia anual. Nem decoração carnavalesca nas ruas do centro se viu. Só quem se deslocou até a Ilha São João para assistir aos desfiles de blocos pôde sentir algum clima de Carnaval por essas bandas.

Bares, restaurantes, shopping... tudo fechado. A cidade parou para que os foliões fossem buscar diversão fora. Jantar, lanchar, tomar uma cerveja, sem chance. Para comer decentemente na segunda à noite tive que ir aonde? Na cidade vizinha (onde encontrei, inclusive, gente do alto escalão da administração municipal volta-redondense que, perguntado se iria para a Ilha São João, respondeu que estava com muito sono).

Por aqui os melhores bares e restaurantes fecham. Será porque? Às 23 horas de qualquer noite não se via uma alma pelas ruas. Ninguém fantasiado sequer com uma peruca na cabeça. Carnaval, só fora da cidade. Itatiaia, Quatis, Piraí, Pinheiral, por exemplo, investem cada vez mais no Carnaval de rua, com direito a palco na praça, banda animando os foliões, estabelecimentos abertos, enfim, cidade animada pelos próprios moradores e milhares de visitantes.

Uma pena ver Volta Redonda como eu vi. O maior município da região, com a maior infraestrutura, transformada simplesmente num conjunto de ruas escuras, vazias, silenciosas. Passei pela Vila Santa Cecília nas quatro noites e me entristeci com a lembrança dos antigos Carnavais realizados ali. O palanque ao lado do Cine 9 de abril, os desfiles na rua 14 e a folia comendo solta depois das atrações oficiais. Era a festa no centro da cidade, onde todos podiam “dar uma passada” e se animarem a ficar, cair no samba. Cá pra nós, quem é que se anima a dar uma passadinha na Ilha São João?

Observei que Volta Redonda tem muito mais potencial para a folia do que simplesmente reunir alguns foliões na Ilha São João para assistir aos desfiles do Bloco da Vida e de outros blocos tradicionais (?). Por que não vem ninguém para cá? Porque a maioria das pessoas diz “Cruz Credo” só de se imaginar passando o Carnaval em Volta Redonda? Por que as outras cidades lotam e aqui não? Por que municípios menores, como Quatis e Pinheiral já oferecem os melhores Carnavais da região? Alguém se habilita a responder?

Ainda não encontrei todas as respostas e nem poderia, afinal não tenho o governo nas mãos. Sou uma pessoa do povo, moro aqui. A própria população desanimou e nem mesmo aqueles grupos de samba que se reuniam em bares alguns anos atrás já não existem. Aliás, que bares?

Deixo claro não ter nada contra o que se promove na Ilha São João. Vi nascer o Bloco da Vida e até hoje me emociono com ele. Da mesma forma que conheço a trajetória dos blocos carnavalescos e defendo sua valorização, incondicionalmente. O que me dói é ver todo esse valor e esse talento escondidos longe do centro. A festa fica sem alma, sem expressão e o resto da cidade com um ar cavernoso. Quem optou por circular pela ruas nas quatro noites de Momo, como fiz, para conferir o 'movimento', pôde observar o silêncio mortal que se abateu sobre todos os cantos, como se o Carnaval estivesse acontecendo em qualquer lugar do país, menos na minha cidade. Uma tristeza de deprimir.
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