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25 de agosto de 2013

As meninas se foram

A semana foi punk. Foi penoso fazer a segunda chegar a sexta e ainda passar o sábado e o domingo quase inteiros trabalhando, sem aquele tempo que seria necessário para digerir o último sapo que a vida me enterrou goela abaixo. 

É dureza amanhecer na segunda com a notícia da perda de duas pessoas queridas, muito queridas, duas irmãs lindas. Dessas pessoas que a gente pensa que são imortais, tamanho o brilho, a juventude, a capacidade de alegrar a todos a sua volta. Essa categoria de ser humano nos faz esquecer que a morte existe. 

Foi uma porrada doída. Tão forte quanto uma rasteira, que nos joga no chão de repente e ali a gente fica, antes de levantar, tentando entender o que aconteceu. Abre-se uma ferida enorme, outras já cicatrizadas voltam a sangrar, o corpo amolece, a cabeça tonteia.

Quanta dor se sente, quanta dor se assiste. Amigos transtornados, olhares perdidos, uma mãe enlouquecida, interrogações no ar e a cena que não sai da memória: ver as meninas pela última vez e chorar por saber impossível encontrar novamente pelas ruas aqueles dois sorrisões solares.

“Gente do céu! O que estamos valorizando nesta vida, meu Deus?”, disse uma amiga ao entrar e ver tamanho sofrimento nas expressões de todos e nossas amigas ali, apesar de não mais. A pergunta está registrada: o que é importante de verdade? O que estamos fazendo? O que eu estou fazendo que realmente valha a pena?

Como diz outra amiga, “a semana levou uma vida inteira pra passar”. O choro me acompanhou em todos os dias, em silêncio, pelos cantos, sozinha.

Minha relação com este papo de morte é pífia, custo muito aceitar certos desígnios da natureza. Por quê? Por que assim? Por que de forma tão estúpida? Por que agora? Por que fazer uma mãe sofrer tanto com a perda de suas únicas filhas? Por quê?

Num papo com minha mãe, que viu dois filhos partirem num mesmo ano, ela disse: “Fiquei sem querer falar com Deus por uns dias. É meio ilógico na minha cabeça. Como orar justamente Àquele que praticamente me arrancou o coração?”.

E fica tudo por isso mesmo, porque é preciso seguir em frente. Ficam a experiência da perda e a reflexão de que a vida é mesmo rara e precária. E que esse Deus que a gente acredita, mas não entende, possa nos confortar.
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