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22 de dezembro de 2007

Distantes II

Minha vizinha deu à luz esses dias. Como previ, fiquei sabendo por acaso, ao escutar o choro do bebê de madrugada. Para quem não se lembra ou não faz a mínima ideia do que estou falando, escrevi há pouco tempo sobre a distância que tomamos de pessoas próximas, nesses tempos de corre-corre atrás do cumprimento de inúmeros compromissos. E um dos exemplos foi a gravidez da minha vizinha, com quem divido parede, que descobri quando ela já estava aos seis meses de gestação.

Pois então, aconteceu. Numa madrugada dessa semana, após fechar a casa e deitar para tentar dormir, escutei, bem baixinho do outro lado da parede, aquele choro frágil de bebê recém-nascido. Sentei na cama e fiquei extasiada com a notícia. “Que lindo, ela ganhou neném!” A sensação foi a mesma de estar sendo comunicada por alguém. Me afundei novamente nos travesseiros e peguei no sono feliz pela mais nova mamãe das minhas relações.

E que relação estranha. Não só com a minha vizinha, mas com muitas outras pessoas com quem até tenho amizades duradouras, mas com pouquíssimo contato. E por isso estou novamente a falar sobre comportamentos esquisitos os quais acabamos por considerá-los corriqueiros. Afinal, quem está livre desse tipo de ‘convivência’ atualmente? Eu e minha vizinha entramos e saímos de casa e praticamente não nos vemos. Em nove meses de gravidez a encontrei duas vezes! E acho tão normal essa relação que fico feliz, mesmo sendo noticiada do nascimento do bebê às duas da manhã pela parede do meu quarto e quase comemoro.

Às vésperas do Natal recebo um email de uma amiga que não vejo há muito tempo. Quando nos falamos é pela internet, mas mesmo por esse meio já não nos encontramos faz meses. Em menos de dez linhas ela contou tanta novidade que fiquei até sem fôlego diante da tela e uma das notícias me reportou ao caso da minha vizinha e seu bebê. A filha da minha amiga está grávida.

Caramba! Essa foi a primeira palavra da minha resposta. A notícia misturou saudade, com uma ponta de tristeza pela nossa distância, as memórias de tempos que atuamos juntas em trabalho assistencial comunitário e, principalmente, a lembrança da filha ainda criança, me chamando de tia. Agora, mulher, espera um filho e provavelmente não verei essa gravidez. Com certeza vou curti-la de longe, recebendo informações sobre a gestação por email. Mesmo assim é ainda melhor que a minha relação com minha vizinha de parede.

Em época de Natal ficam muito mais gritantes essas distâncias. Será que alguém ainda presta a atenção nisso? Houve tempos em que no início de dezembro as caixas de correio já ficavam abarrotadas de cartões de felicitações natalinas. Hoje em dia, alguns poucos chegam por email e normalmente são spams de empresas que apenas cumprem sua programação de marketing.

Voltando ao bebê da minha vizinha, espero o dia em que nos encontraremos por acaso, chegando ou saindo de casa. Assim poderei conhecer a criança e até confirmar se o bebê é realmente uma menina, como ouvi numa manhã dessas para, quem sabe, providenciar um presente. Difícil saber quando vamos nos esbarrar.
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Um comentário:

CS Empreendimentos Digitais disse...

olha! sabe q eu estava subindo a sua rua ontem, chegando perto da sua casa para nos encontrar e me veio à cabeça esse texto sobre a vizinha. pensei "será q já ganhou neném? vou perguntar pra gi". só que depois que cheguei, era tanta festa, tantas informações que acabei me esquecendo disso.
e agora entro aqui e tenho a resposta! srrsrsrr!
bjs!